sexta-feira, 12 de abril de 2013





“O Início do Mundo”



A sabedoria do culto africano nos ensina que cada ser humano carrega consigo a influência de um determinado Orisa, o que lhe proporciona características no seu perfil, na personalidade, e, por outro lado, os Odus conferem a ele o seu destino.
Seria interessante enfatizar o quanto, o verdadeiro conhecimento trazido da cultura africana é importante para que através dele possamos entender sua beleza e sabedoria. Apesar de muito antiga, esta cultura está presente no nosso dia-a-dia.
Eledunmare, sendo o ser supremo, no processo da criação determinou que na terra devesse haver evolução e progresso. Para tanto, a fim de completar o processo da criação enviou para a terra quatro divindades distintas, que dariam início à criação da humanidade:
Obàtalá – A divindade modeladora dos corpos humanos.
Esu – A divindade que proporcionaria o contato entre o homem e os Orisas, sem ele não há comunicação.
Ifá – A divindade que poderia, através de seus conhecimentos e sabedoria, conhecer e alterar o destino dos homens.
Ogun – A divindade que abriria caminhos na terra, tanto para a passagem dos deuses como para a passagem do próprio ser humano.
Quando aqui chegaram, as quatro divindades foram tomadas de grandes dificuldades, uma vez que a terra estava totalmente em estado primitivo, a selva era intensa e impedia sua exploração ou qualquer tentativa que pudesse facilitar a caminhada.
Determinados a cumprir seus propósitos, as divindades lançaram-se em inúmeras tentativas, mas não havia progresso. Obàtalá, Ifá e Esu não foram bem sucedidos, pois não tinham ferramentas fortes e apropriadas o bastante para romper as dificuldades, mas Ogum, com sua força, coragem e sua ferramenta primordial, o facão, abriu trilhas, cortou arvores para a passagem do homem, dando assim condições para que a terra fosse transformada e tivesse a possibilidade de ser habitada, além de ser o marco de início de evolução e progresso para toda a humanidade.
Para que ele fosse o detentor do poder do ferro e, portanto a divindade que proporcionaria aos seres humanos toda a evolução a partir dele, Ogum, por determinação de Ifá, o senhor dos destinos, foi aconselhado a fazer um ebo. Após a sua realização teria que esperar pela caída da primeira chuva, e depois sair à procura de um local que sofrera uma erosão. Neste mesmo lugar deveria procurar uma areia preta e fina, recolhê-la e queimá-la. Ciente dos procedimentos que deveriam ser feitos, Ogun, seguiu as instruções passadas por Ifá e, após a elaboração de seu ebo a chuva caiu como havia sido falado. Então andou a procura da região onde encontraria a areia. Seguindo as instruções, após colocar para cozinhar, notou com muita surpresa que esta em contato com o calor se tornava outro material, até então totalmente desconhecido por todos, nascia assim o ferro.
Após manipular esta mistura, ele forjou o ferro, criando a primeira ferramenta do mundo, o èmú, uma espécie de alicate, depois uma faca e um facão, objetos que são usados por rodos os tipos de ferreiros e que devem compor os assentamentos dedicados a este Orisa.
A partir de então, Ogun, confeccionava estas ferramentas e as comercializava ensinando a sua utilização. Por todos estes méritos, seu nome foi sendo espalhado, louvado e consagrado na terra. Isto nos ensina que a natureza divina é superior a tudo, mudando com suas forças a ação simplesmente humana.
Sendo Ogun um desbravador, seu desejo era o de abrir caminhos para que a civilização pudesse prosperar, estimulando com o comércio a integração entre os seres e fazendo com que saíssem da era primitiva para a formação de novas culturas, leis e tecnologias que propiciaram ao mundo chegar até os dias atuais, onde somos totalmente dependentes deste minério. Ele está presente dentro de nossas casas, no carro, em todas as máquinas que movimentam a humanidade, desde as forjas de grandes usinas até dentro das UTIs dos hospitais.
Portanto é necessário que nós entendamos a grandeza da influência deste Orisa, aquele que tem o poder da transformação. Corajoso, destemido e desprovido de egoísmo, pois tudo que criava, ele ensinava aos outros, mudando assim o destino da humanidade. Ele é o senhor da inteligência, que criou as coisas, básicas, impulsionou a evolução, a produção, o trabalho, o comércio na terra e a interligação entre os povos.



“A Vida de Divindade”



A terra sagrada onde Ogun reinou foi Ire. Ali conseguiu fama e reconhecimento de seu povo, era idolatrado, um rei exemplar. Caçador ensinou aos homens a arte da caça, da agricultura, da metalurgia. Tudo aquilo em que colocava a mão era produtivo, agindo na natureza e transformava em progresso. Com o seu facão limpou áreas para o plantio de milho e inhame, e tinha sucesso na colheita, sua casa era farta de comida. Ogun também é patrono da agricultura.
Seu primeiro discípulo foi Osoosì e um Orisa feminino, Erínlé, para os quais ensinou a arte da caça. Por isso, Osoosì deve zelar pelo segredo do conhecimento sagrado na caça, e Erínlé recebe a guarda deste conhecimento tornando-se guardiã e protetora dos caçadores.
É de se notar a sabedoria deste ser que aliou a força masculina À força feminina, pois na cultura africana não existe a supremacia masculina, como na cultura ocidental, estabelecendo talvez uma das primeiras ordens sociais onde as diferenças físicas não colocavam a mulher em posição inferior. A sabedoria não está no corpo e sim no conhecimento, na conduta, que ensina que todo ser é perfeitamente capaz.
Pelo seu temperamento quente e inteligência rápida, ele era temido, pois estas características deixavam-no poderoso o bastante para proteger os banidos da sociedade, com quem ele tinha muita identificação.
Ogum empunha uma espada de corte duplo, afiada dos dois lados, protegendo o honrado, o inocente, o pobre, as vítimas de ataques militares, infligindo inevitavelmente dor aos falsos, avarentos ricos, inimigos da pessoa em guerra. Esta natureza, ao mesmo tempo benevolente e destrutiva, é contida nos símbolos que fazem parte do seu culto.
Esta ambigüidade é sentida na interpretação de suas armas, uma faca que tanto serve para matar como para salvar vidas, pode ser usada para construir como para destruir. A força de Ogun estabelece equilíbrio entre a vida e a morte, agindo sobre a natureza e o tempo dos homens.


“Sete Personalidades Em Um Único Ser”




Ogun Onire – O rei e guerreiro da cidade de Ire.
Ogun Ikola – O homem da navalha que faz circuncisões e marcas faciais.
Ogun Gbenagbena – O artesão que trabalha com artes.
Ogun Alagbede – o Ferreiro.
Ogun Onigbajamo – Poeta e historiador, que canta e entoa ijala e iremoje.
Ogun Olode / Ogun Makinde – O guerreiro e caçador.
Ogun alara – O sábio que transforma a terra riqueza.


“As qualidades de seus epítetos”




Ogun Alakaye – Aquele cuja grandeza está espalhada no planeta.
Ogun Are – Aquele que é justo em seus julgamentos.
Ogun Asegbe – O bondoso faz tudo em prol dos outros.
Ogun Meje – Ogun de sete personalidades.
Ogun Olojo – Senhor do dia, por ter ensinado aos homens como agir diariamente.
Ogun Onibode – Aquele que detém o poder sobre o caminhar dos seres humanos, senhor das estradas.
Ogun Onire – Rei da cidade de Ire, cidade sagrada por ele fundada, local onde viveu e desenvolveu parte de sua sabedoria.
Ogun Osinmole – Líder das divindades e seu guerreiro, chamado desta forma por ter o direito de liderar os outros Orisa nas guerras.
Ogun Yankannire – O forte, o resistente.

Símbolos Sagrados”



Mariwo – folha extraída da palmeira do coqueiro de dendê, usado como roupa, usadas em suas festas e em seus assentamentos, colocada na porta e também atraí a proteção.
Emu – alicate usado nos assentamentos e pelos ferreiros, sendo ferramenta de muita importância no culto aos Orisa.
Opa Ogun – bastão de ferro revestido com contas multicoloridas, utilizado pelos sacerdotes de Ogun para transmitir seu ase. Somente os pertencentes a mais alta hierarquia têm o privilégio de carregá-lo.
Oolu – Martelo usado no assentamento, existindo outro tipo chamado omo owu, usado apenas para martelar ferro quente na forja.
Ada – Facão. Nas histórias consta uma louvação que diz: Ogun Aladameji, o fi okan sile, fi okan yena, Ogun o dono dos dois facões, deixa um em casa e com o outro abre o caminho.
Ida – Espada de ferro utilizada por Ogun na guerra. Sempre presente em seu assentamento.
Obe – faca que é considerada a primeira ferramenta usada nos sacrifícios, tanto para ele como para as outras divindades.
Agogô – sino forjado em ferro, instrumento considerado de preferência de Ogun e de algumas outras divindades. É sempre usado para evocá-los.
Ibon – Espingarda, instrumento de guerra utilizado para avisar de sua chegada através da incorporação durante os cultos nas suas festas.
Ota Ogun – Pedra sagrada presente nos assentamentos, sendo indispensável na forja. Tem uma resistência maior que as outras é sobre ela que se trabalha o metal.
Olungbondoro – Instrumento feito de corda e casca de coco, que é amarrado no pescoço do cachorro.
Awe – Pode de barro sagrado que contém água.


“Arvores Sagradas”




Suas arvores sagradas são o mariwo, o preregun, o akoko, o yeye e o cajá. Estas plantas são muito resistentes, representam a longevidade e são usadas em fundamentos, em banhos na sua sacralização, Próximo a estas arvores são colocados seus assentamentos e, neste caso, enfeita-se a arvore com panos brancos e franjas de mariwo. Sua bebida favorita é o vinho feito de palma.


“Festividades”




Suas festas são comemoradas até hoje na cidade de Ire, no mês de Agosto, e também na cidade de Ondo, por ele conquistada, onde até nossos dias se realiza a maior festa em sua homenagem.
Neste dia, as pessoas se pintam todas de waji e se enfeitam de mariwo (uma vez que se vestia com roupas), tomando vinho de palma da mesma forma que ele fazia.
Era de seu costume, antes de sair para as guerras, tomar vinho de palma e quando ele chegava era oferecido em louvor a seus feitos, o que representa o poder e a força de Eledunmare.


“Saudações”




Quando o seu povo passava por ele o saudava:

Ogun pele o (Ogun saudações).

Omo a bule sowo (Você que transforma a terra em dinheiro).

Como trazia a prosperidade também era saudado:

Onile Owo (O dono da morada do dinheiro).

Olona Olá (O dono do caminho da prosperidade).




Ogun é também considerado o patrono dos que trabalham com automóveis ou metias, ainda hoje na Nigéria é reverenciado é tido como tal, existe até uma cantiga pedindo a diminuição de acidentes nas estradas:


Ona a rin, yê e e,

(um caminho livre de acidentes)

Ona a rin ye o,

(uma caminho livre de acidentes para você)

O ni moto o,

(Oh, motorista)

Omo Ogun Onire,

(filho de Ogun Onire)

Ona a rin ye o,

(um caminho livre de acidentes para você)

O ni moto,

(oh, motorista)

Ro ra sare o,

(não corra demais)

O ni moto,

(oh, motorista)

Ro ra se kona yen,

(não faça curvas correndo)

Eso pele oni moto,

(vá tranqüilo motorista)

Omo Ogun Onire,

(filho de Ogun Onire)

Ona a rin ye o.

(um caminho livre de acidentes para você).




A lenda que envolve o desaparecimento de Ogun, é de que abrindo um buraco na terra, nele desapareceu. Um dia ao chegar de uma guerra, todos de sua aldeia bebiam e, não o convidaram para participar da festa, irado, ofendido e desgostoso com a atitude de seu povo, avisou a todos que a partir daquele instante, assim que precisassem de sua ajuda, poderiam chamá-lo, pois ele viria em seu socorro.
Ogun não morreu. Sua força e energia se mesclaram à terra para que pudesse continuar o processo de evolução, não mais como carne e corpo, e sim como energia, que nos impulsiona à sobrevivência.
A interpretação deste fato está em que a força de um Orisa, vivendo enquanto ser humano junto aos homens, é tão grande que acaba provocando o desequilíbrio nas determinações e ensinamentos que haviam sido dados por ele.


“Orin Ogun"



Iwara ofa, Ogun de,

(o guerreiro do arco e flecha, Ogun chegou)

Ode ma ta,

(oh! Caçador não atire)

Iwara ofa ode ma ta,

(oh! Guerreiro do arco e flecha, caçador não atire)

Bi o riku, ki o ta,

(oh! Se você vir a morte, atire contra ela)

Iwara ofa, ode ma ta,

(oh! Guerreiro do arco e flecha, não atire)

Bi o ri arun ki o ta,

(Se você vir a doença, atire contra ela)

Iwara ofa, ode ma ta,

(oh! Guerreiro do arco e flecha, caçador não atire)

Bi o ri osi ki o ta,

(Se você vir a pobreza, atire contra ela)

Iwara ofa, ode ma ta,

(oh! Guerreiro do arco e flecha, caçador não atire)

Bi o ri ibanuje, ki o ta,

(Se você vir a tristeza, atire contra ela)

Iwara ofa, ode ma ta,

(oh! Guerreiro do arco e flecha, caçador não atire)

Bi o ri odale ki o ta,

(Se você vir o traidor atire contra ele)

Iwara ofa, ode ma ta.

(oh! Guerreiro do arco e flecha, caçador não atire).





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